A Letra Financeira, também conhecida por LF, é uma modalidade de investimento criada em 2010 pelo Governo a fim de permitir aos bancos a captação de recursos de longo prazo, o que os protege em caso de crise, por exemplo.
Esse é um tipo de aplicação de renda fixa parecido com outros investimentos mais conhecidos, como o CDB, LCA e LCI, porém com rentabilidade maior, pois possui requisitos diferentes para o investidor, além do valor aplicador não poder ser resgatado antes do prazo estipulado.
Se você está considerando essa opção no seu portfólio de investimentos, leia este artigo para tirar todas as suas dúvidas sobre os seguintes tópicos:
- Qual é a tributação de uma Letra Financeira?
- Como ela funciona em comparação com outros títulos de renda fixa?
- Qual é a liquidez dessa aplicação?
- Qual é o investimento mínimo?
- Como calcular o rendimento atrelado ao CDI?
- Quais são as outras formas de remuneração?
- Quais são os cuidados necessários com esse investimento?
- Passo a passo para aplicar em LF.
O que é Letra Financeira?
Letra Financeira é uma aplicação de renda fixa que busca recursos de longo prazo, a partir de dois anos. Esse investimento tem um valor mínimo de R$ 150 mil, incidência da menor alíquota do Imposto de Renda (15%) e alta rentabilidade, normalmente pós-fixada.
O rendimento da Letra financeira costuma ser atrelado ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário, índice de referência que fica próximo da Selic).
Bom, agora que você sabe o rendimento em relação ao CDI, é importante descobrir quanto isso significa na prática, certo?
Para saber qual é o CDI, que tem variação diária conforme os juros de empréstimos interbancários, você pode conferir a taxa mais atualizada no site da Cetip, a integradora do mercado financeiro.
Ao fazer essa pesquisa, você vai ver que a valorização oferecida pela Letra Financeira é uma das maiores da renda fixa.
Mas, na simulação de investimento, é importante lembrar do Imposto de Renda (IR), que vai abocanhar 15% dos seus ganhos na hora do resgate.
Além do IR, você não precisa se preocupar com outros tributos ou taxas.
Neste resumo inicial sobre a Letra Financeira, é importante salientar que esse investimento não pode ser resgatado antes do prazo – apenas no vencimento, que é de, no mínimo, dois anos, a depender de cada um desses títulos.
Por isso, antes de optar por esse título, é importante realizar um planejamento financeiro adequado, que leve em conta todos os seus custos mensais, gastos extras e rendimentos ao longo dos próximos meses e anos, para não sofrer com a falta de liquidez.
O que é a Letra Financeira Subordinada?
Quando a LF é emitida com uma cláusula de subordinação, o pagamento da remuneração devida ao investidor está condicionado ao pagamento de outras dívidas da instituição financeira emissora em caso de insolvência.
Geralmente, por oferecer condições contábeis mais vantajosas à instituição emissora, esse tipo de título oferece rentabilidade maior.
A presença de uma cláusula de subordinação na letra financeira também gera outra consequência importante: o investimento mínimo passa de 150 mil reais para 300 mil reais.
Como funciona a Letra Financeira?
A Letra Financeira funciona de forma semelhante a outros títulos de renda fixa. Uma de suas particularidades é que ela se trata de uma aplicação de longo prazo, sempre superior a dois anos, e com investimento inicial alto, de pelo menos R$ 150 mil.
Diferentemente de muitas outras aplicações, a Letra Financeira não pode ser negociada antes desses dois anos.
O rendimento costuma ser pós-fixado, atrelado ao CDI.
Mas também há títulos desse tipo que remuneram de forma prefixada, com uma taxa de juros anual especificada antes da aplicação.
Existem ainda Letras Financeiras atreladas a um índice, como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que ajudam a blindar o investimento da inflação.
Alguns desses títulos oferecem pagamento de juros semestrais, mas, nesse caso, você precisa contar com o desconto do Imposto de Renda a cada seis meses.
Ao contrário de investimentos como CDB (Certificado de Depósito Bancário) e LCI/LCA (Letra de Crédito Imobiliário e Letra de Crédito do Agronegócio), a Letra Financeira não possui a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Sabe o que isso significa?
Preste atenção: o FGC é uma organização não governamental, mantida com aportes mensais das instituições financeiras do país.
Esse fundo é usado para garantir o equilíbrio do sistema financeiro do Brasil.
Em caso de quebra ou intervenção em uma instituição financeira, o FGC entra em ação para auxiliar o banco ou a corretora e também os investidores.
Aplicações como a poupança, o CDB e LCI/LCA têm a proteção desse fundo: se você investe em uma delas, conta com a devolução do saldo de seu investimento em caso de falência da instituição emissora, para um limite de até R$ 250 mil por CPF por banco ou corretora que tenha emitido esse título.
No caso da Letra Financeira, não há essa garantia. Você depende da solidez da instituição financeira que emite o título.
Por isso, não adianta buscar rentabilidades astronômicas em instituições pouco confiáveis: é preciso ir atrás do histórico de crédito e da solidez da instituição financeira.
A seguir, vamos entender melhor quais aspectos analisar antes de fazer seu primeiro investimento em Letras Financeiras.
Investimento e prazo mínimo
O investimento mínimo para uma Letra Financeira é de R$ 150 mil e o prazo mínimo do título é de dois anos. É importante lembrar, ao considerar esse título, que você não poderá resgatar o dinheiro antes desse prazo, nem com deságio (quando há o pagamento de um prêmio ao banco ou à corretora).
Levando em conta o investimento e o prazo mínimos, é essencial que a rentabilidade do título em questão seja superior a concorrentes mais líquidos.
Se não for, não faz sentido aplicar nesse título, já que as restrições não oferecem a contrapartida necessária na remuneração.
Qual a rentabilidade da Letra Financeira?
A rentabilidade da Letra Financeira costuma ser uma das maiores do mercado de renda fixa, aquele cujos rendimentos podem ser calculados ou projetados na hora do investimento.
A valorização desse título normalmente é oferecida de forma pós-fixada, de acordo com o desempenho do CDI, embora também haja opções atreladas ao IPCA (que pagam juros mais a variação da inflação oficial) e prefixadas (com juro anual já definido na hora da aplicação).
O formato da remuneração pode ser semestral: nesse caso, o pagamento dos juros ocorre a cada seis meses. Não esqueça, porém, que essa opção acarreta a cobrança semestral de Imposto de Renda, o que prejudica a rentabilidade final do título, já que o valor coletado antecipadamente pelo IR deixa de ficar se valorizando ao longo de todo o período restante.
Ficou um pouco confuso sobre as características desses títulos?
Vamos esmiuçar os detalhes: LF é o tipo da aplicação (Letra Financeira), o prazo é o período até o vencimento (antes do qual não se pode fazer o resgate), o rendimento é atrelado ao CDI (que é uma referência comum de rentabilidade em investimentos) e o valor mínimo é o mesmo para todos, de R$ 150 mil.
Para simular investimentos em Letras Financeiras, você pode usar a Calculadora do Cidadão, uma ferramenta disponibilizada gratuitamente pelo Banco Central.
Nela, você pode usar os últimos anos como exemplo de quanto uma aplicação com essas características rendeu: basta selecionar a aba CDI, digitar o valor, o período e o percentual do CDI.
Exemplo: uma aplicação de R$ 150 mil num primeiro título de LF que paga, por exemplo, 109% do CDI, teria rendido 32,10% (antes do IR) ao longo de dois anos, de maio de 2015 ao fim de abril de 2017, considerando o CDI desse período.
Considerando o Imposto de Renda, o resultado final nesse exemplo seria uma valorização de R$ 40.934,13, totalizando R$ 190.934,13.
Viu? Esse exemplo mostra bem o quão bom pode ser o resultado dessa aplicação comparado com outros de renda fixa.
Mas é importante lembrar que os últimos anos tiveram CDI acima da média, devido a uma Selic elevada para conter a inflação.
O Boletim Focus, divulgado no começo de julho desse ano, reduziu a perspectiva para a Selic em 2017 a 8,13%.
Isso quer dizer que o CDI deve ficar próximo desse patamar, ou seja, com rendimento inferior a anos anteriores.
Essa observação é para que você não crie expectativas falsas: todas as aplicações em renda fixa pagarão menos nos próximos anos, porque dependem, de uma forma ou de outra, de títulos do Governo Federal.
Para quem é indicado investir em Letra Financeira
A Letra Financeira é indicada para investidores com capital elevado, que buscam diversificar seus investimentos e aplicar quantias maiores, com rentabilidade potencialmente melhor que a de outros títulos de renda fixa.
O risco se dá apenas para o caso de uma possível quebra da instituição financeira, fator que pode ser driblado com uma boa pesquisa do histórico e da solidez da corretora ou do banco de investimentos.
Desvantagens Das Letras Financeiras
Não há diferença significativa entre as letras financeiras e outros títulos privados de renda fixa (como o CDB) quando o assunto é risco. Portanto, uma das poucas desvantagens que podemos destacar com relação às letras financeiras é mesmo a baixa liquidez.
A letra financeira não parece ser a melhor das escolhas se você tem uma vida financeira extremamente imprevisível e cheia de altos e baixos — a LF tem um vencimento de no mínimo 24 meses. Assim, mesmo que o investidor precise do dinheiro antes disso, não poderá sacá-lo.
Por isso, antes de se comprometer uma quantidade significativa das suas reservas aplicando-as em letras financeiras, é sempre bom rever seus planos de curto e médio prazo, além de tentar antecipar imprevistos e eventualidades que podem fazer com que você precise dos recursos antes da hora.
Se você acha que pode ser demitido dentro dos próximos meses ou está tentando o segundo filho, por exemplo, as letras financeiras podem não ser uma boa opção, a não ser que você tenha uma boa reserva de emergência ou se já possui outros investimentos com melhor liquidez.
Outra desvantagem da LF é a necessidade de um investimento inicial elevado, quando comparamos com o padrão médio dos investidores, que se enquadram na categoria de pessoa física: 150 mil reais.
Aliás, este é o grande motivo por trás da falta de popularidade deste produto. O investimento inicial elevado acaba tirando grande parte dos pequenos investidores do jogo.
Mas apenas para provar a qualidade da LF, basta dizer que o estoque em volume de dinheiro das letras financeiras é praticamente o mesmo do CDB, por mais que tenha um número muito menor de investidores.
Vantagens Das Letras Financeiras
Como você talvez já possa imaginar, a grande vantagem da letra financeira é a rentabilidade extremamente atrativa. Trata-se de uma forma de conseguir uma rentabilidade bem mais alta sem, contudo, aumentar os riscos do investimento.
É como se pagássemos a rentabilidade elevada com uma liquidez menor sem precisar correr mais riscos do que correríamos caso optássemos por outra opção de investimento mais comum, como é o caso do CDB, por exemplo.
Letra Financeira tem FGC?
O risco de uma LF não é o mesmo de uma aplicação em renda variável, já que o rendimento desse título é conhecido antes da aplicação. A insegurança aqui se dá ao aplicar em instituições pouco sólidas, sem um histórico louvável e comprovável.
É importante lembrar que a Letra Financeira não tem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito.
Para aplicações como CDB e LCI/LCA, o FGC cobre o saldo do investimento até o limite de R$ 250 mil por CPF por instituição financeira emissora.
Letra Financeira tem Imposto de Renda – IR?
A tributação da Letra Financeira é basicamente o Imposto de Renda, em sua alíquota mínima, que é a de 15%, para aplicações superiores a dois anos.
Mas é importante entender como se dá a tributação em outros investimentos, para que você possa comparar devidamente.
Em muitas aplicações de renda fixa, incluindo o CDB, existe a cobrança de Imposto de Renda.
Ela varia de acordo com o tempo de investimento, conforme uma tabela regressiva, que vai de menos de 180 dias a mais de 720 dias.
Veja abaixo:
PRAZO DE APLICAÇÃO | ALÍQUOTA IR |
---|---|
Acima de 720 dias | 15% |
Até 180 dias | 22,5% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
Na Letra Financeira, a alíquota segue essa mesma tabela. Mas, como já se sabe que o prazo será superior a dois anos, você não pagará mais de 15% de Imposto de Renda.
Só não esqueça este detalhe: o IR incide apenas sobre o rendimento, e não sobre toda a aplicação.
Os investidores que miram o curtíssimo prazo (30 dias), que não é o caso das LFs, ainda precisam se preocupar com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que é cobrado para quem resgata a aplicação em um a 29 dias.
Confira a tabela do IOF:
DIAS APÓS APLICAÇÃO | IOF (EM %) | DIAS APÓS APLICAÇÃO | IOF (EM %) |
---|---|---|---|
15 | 50% | 30 | 0% |
1 | 96% | 16 | 46% |
2 | 93% | 17 | 43% |
3 | 90% | 18 | 40% |
4 | 86% | 19 | 36% |
5 | 83% | 20 | 33% |
6 | 80% | 21 | 30% |
7 | 76% | 22 | 26% |
8 | 73% | 23 | 23% |
9 | 70% | 24 | 20% |
10 | 66% | 25 | 16% |
11 | 63% | 26 | 13% |
12 | 60% | 27 | 10% |
13 | 56% | 28 | 6% |
14 | 53% | 29 | 3% |
Viu? Esse é apenas um lembrete de que as aplicações de longo prazo se beneficiam de uma cobrança menor de Imposto de Renda.
Vale a pena investir em CDB ou Letras Financeiras?
É importante registrar, ainda, que CDB e letras financeiras são duas aplicações completamente diferentes e, portanto, são regulamentadas por dispositivos igualmente diferentes.
Embora ambas sejam títulos de renda fixa, emitidas por instituições financeiras para que possam financiar suas atividades, as letras financeiras são projetadas para serem resgatadas em longo prazo e exigem um investimento inicial relativamente alto.
Outra grande diferença é que as letras financeiras também costumam ter uma rentabilidade bem maior, não apenas para compensar a baixa liquidez, como já mencionamos, mas também em razão do fato de que os bancos estão livres do depósito compulsório no caso das letras financeiras.
Já quando captam dinheiro pelo CDB, são obrigados a engessar compulsoriamente 32% do montante, transferindo o valor para o Banco Central. Além disso, outras disposições rígidas que regulamentam garantias, prazos e formas de remuneração também acabam fazendo com que a rentabilidade do CDB não seja tão atrativa quanto a das letras financeiras.
Como investir em Letras Financeiras?
O primeiro passo para investir em letras financeiras é procurar um bom banco de investimentos. O ideal é apostar em uma instituição sólida e tradicional, mas também não precisa, necessariamente, ser aquele banco que tem uma agência em cada esquina, até mesmo porque estes costumam oferecer uma rentabilidade menor.
Bancos médios podem trazer a segurança que você procura sem comprometer os seus ganhos.
Na sequência, é bom tirar um tempo para se familiarizar com o produto. É possível fazer simulações sem nem sair de casa, via internet. Além disso, faça uma pesquisa para conhecer todas as cláusulas do contrato, já que as letras financeiras não são todas iguais, há pequenas variações de umas para as outras.
Não podemos nos esquecer, ainda, que qualquer tipo de investimento é apenas uma espécie do gênero planejamento financeiro. Assim, procure organizar as suas finanças de forma sistemática, diversificando os investimentos e combinando opções de longo prazo com opções de curto prazo, para não ficar sem dinheiro, caso venha a precisar.
Conclusão
A Letra Financeira pode ser uma excelente opção para quem mira o longo prazo e conta com um elevado capital inicial e a certeza de que não precisará do dinheiro antes de dois anos da aplicação.
Para esses casos, esse investimento oferece uma das maiores rentabilidades da renda fixa, normalmente atrelada ao CDI.
É importante levar em conta um aspecto fundamental ao aplicar nesse tipo de título: a solidez da instituição emissora.
Isso porque a Letra Financeira não conta com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito, que banca o saldo de investimentos como a poupança, o CDB e LCI/LCA em caso de quebra da instituição financeira.
Além disso, quem se interessa pelas características da Letra Financeira deve buscar informações também sobre CDB e LCI/LCA, duas aplicações com bons retornos e maior flexibilidade de vencimentos e liquidez. A primeira tem cobrança de Imposto de Renda, e a segunda, não. Ambas são protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito.