No Brasil, as pessoas que erram a mão no orçamento pagam caro por empréstimos de curto prazo, por conta das altíssimas taxas de juros. Por isso, é importante construir uma reserva de emergência para se proteger contra imprevistos e evitar pagar caro por não se precaver.
O comentarista de CBN Mauro Halfeld, no programa CBN Dinheiro, falou muito bem sobre esse tema, onde tratou do caso de um ouvinte que vive de comissões, tendo portanto um fluxo de renda mensal incerto.
O intuito deste artigo é explicar o que é um fundo de emergência, quem deve utilizá-lo, onde o dinheiro deve ser aplicado e como essa reserva deve ser utilizada.
O que é um fundo de emergência?
Um fundo (ou reserva) de emergência nada mais é que uma reserva financeira que você constrói para se proteger de imprevistos ou de meses onde a entrada de recursos foi abaixo do esperado.
Esses imprevistos podem ser desde problemas no carro, despesas médicas inesperadas ou gastos em começo de ano até um mês de desempenho abaixo do esperado nos negócios, principalmente para pessoas que vivem de comissões ou com a maior parte da renda sendo variável.
Quem deve construir um fundo de emergência?
Todos! Algumas pessoas estão expostas a riscos maiores, como funcionários sem estabilidade no trabalho, ou com a maior parte da renda originada de uma parcela variável, tais como comissões ou produtividade. Outros, mesmo tendo um salário fixo e estabilidade no emprego, como servidores públicos, também precisam dessa reserva.
A grande diferença é que alguns precisam mais do que os outros. Um trabalhador que vive de comissões, por exemplo, precisa ter um fundo mais consistente, que represente algo em torno de 6 vezes seus custos fixos. Se os custos fixos mensais desse trabalhador seja de R$ 2.000, ele precisa poupar aproximadamente R$ 12.000.
O principal objetivo é ter tranquilidade financeira para trabalhar. Quem se enquadra nessa condição sabe o quanto é estressante não ter certeza se a renda ao final do mês será suficiente para pagar as contas. E tendo essa reserva, a pessoa se livra dessa terrível preocupação e ainda pode investir algum dinheiro, sempre que passar por meses mais rentáveis.
Por Que Você PRECISA de Uma Reserva de Emergência?
Na maioria das vezes, a cultura brasileira é imediatista para o consumo e não tem muita preocupação em ter uma reserva de emergência.
De acordo com uma pesquisa do Datafolha referente a 2017, cerca de 65% dos brasileiros não tem um montante para os imprevistos.
Muitos preferem priorizar o agora e comprar o que desejam, sem se preocupar com o futuro. O Brasil está entre os países com maior índice de imediatismo calculado pelo Insper.
A pesquisa ainda revelou que de 143 nações, estamos à frente de apenas 11 delas, ou seja, ocupamos a lanterna do ranking em termos de guardar dinheiro para o futuro.
Essa tendência de não estar preparado para as eventualidades é maior entre os mais jovens e as mulheres.
Então, para não fazer parte desta estatística, você precisa entender os motivos de ter uma reserva de emergência. O primeiro deles é evitar dívidas e empréstimos.
Imagine a seguinte situação: as despesas mensais da sua família são de R$ 3.000,00. Tudo está indo bem, até que você perde o emprego. Por conta disso, os rendimentos passarão para R$ 1.000,00.
Digamos que o seu carro e o seu imóvel são financiados. Eles devem ser pagos para evitar perdas e altos juros. Com apenas R$ 1 mil, o orçamento doméstico ficará comprometido, já que há também os custos essenciais como as contas de água e luz, por exemplo.
Como você não tem uma reserva de emergência, para continuar a sustentar as despesas, a saída encontrada foi diminuir alguns gastos e recorrer a um empréstimo bancário até você conseguir um novo emprego.
Agora, você acaba de contrair um outro problema, que é o custo desta “ajuda financeira”. Todo empréstimo tem juros, principalmente quando se trata de bancos.
Mesmo que você consiga continuar o custeio das despesas da sua família, no futuro, terá a dívida bancária, ou seja, é o efeito bola de neve.
Com o fundo de emergência, a solução poderia ser muito melhor. Neste caso, haveria dinheiro suficiente para pagar as despesas sem preocupações.
Em uma situação que envolve problemas de saúde, ter uma reserva é ainda mais importante. Mesmo com pouco dinheiro, é possível agir mais rápido ao invés de contrair empréstimos, ir em busca de crédito e afins.
Se você é um empreendedor ou não tem um emprego formal, o fundo de emergência é crucial para manter o equilíbrio da sua vida financeira.
Não espere o problema acontecer para agir! Esteja preparado e mantenha as suas finanças sob controle.
Onde o dinheiro deve ser aplicado?
O fundo de emergência deve ser mantido de forma muito líquida e conservadora. A intenção dele não é obter o máximo de rendimento, mas estar guardado num local seguro, que não ofereça riscos de perdas e que possa ser sacado assim que a necessidade aparecer.
Para tanto, o mais indicado é que esteja investido num fundo DI ou até mesmo na caderneta de poupança. Como falei antes, o foco não é rentabilidade, mas segurança e liquidez.
Como Fazer um Fundo de Emergência: Os Melhores Investimentos
Quando se pensa em fundo de emergência, muitas pessoas lembram da poupança. Porém, existem alternativas que podem ser mais atrativas para seu dinheiro.
Em 2015, ela apresentou retorno negativo superior a 2%. Já em 2018, com a taxa Selic em 7,0% ao ano, a sua rentabilidade é inferior a 5,0% ao ano.
Caso o índice siga as projeções do mercado, que é de 6,75% a.a., o retorno da caderneta cairá para 4,7%a.a.
Hoje, você encontra investimentos para a reserva de emergência com rendimentos mais atrativos e que são tão seguros quanto à poupança. É melhor guardar o seu dinheiro e ainda fazê-lo crescer, não é mesmo?
Para mostrar como isso é possível, listamos as melhores aplicações para você começar a fazer o seu fundo de emergência agora mesmo. Acompanhe:
1 – Tesouro Selic
Este é um título público de renda fixa emitido pelo governo. Basicamente, ele consiste em um empréstimo do seu dinheiro para o financiamento de áreas como, saúde, educação e infraestrutura.
Em troca, você recebe uma taxa de rentabilidade, que no caso é a própria taxa Selic anualizada. Nos patamares atuais, em que a taxa Selic meta está em 7,0% ao ano, o ativo renderá em torno deste valor.
O Tesouro Selic é ideal para o fundo de emergência, porque ele possui liquidez diária. Ou seja, todos os dias, os lucros estão disponíveis na sua conta.
Além disso, ele tem baixa volatilidade. Então, o preço de compra é muito próximo do preço de venda. Caso você tenha que solicitar o resgate, as perdas são pequenas.
A venda deste ativo pode ser feita a qualquer momento, pois o próprio governo faz a recompra. A liquidação se dá em D+1, isto é, em um dia útil o dinheiro estará na sua conta.
2 – CDB com liquidez diária
O CDB com liquidez diária é uma boa alternativa para o fundo de emergência. Como ele é emitido pelos bancos, é possível encontrar taxas de rentabilidade próximas ou maiores que o CDI.
Assim, você poderá ter uma reserva de boa remuneração e com a vantagem de resgatar o valor investido a qualquer momento. Diferentemente do Tesouro Selic, a liquidação pode ocorrer no mesmo dia.
Outro ponto positivo do CDB com liquidez diária é a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para valores de até R$ 250 mil.
Caso o emissor quebre, você não perde o que investiu, ou seja, o seu fundo de emergência estará seguro.
3 – LCI e LCA com liquidez diária
As LCI (Letras de Crédito Imobiliária) e a LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) são títulos de renda fixa do setor privado. A taxa de rentabilidade é semelhante ao CDB, bem como, o princípio de funcionamento.
Porém, esses ativos têm uma vantagem muito atrativa para o seu fundo de emergência, que é a isenção de tributos.
Assim, os rendimentos brutos são iguais ao líquidos. Então, você conta com bons rendimentos, facilidade no resgate e ainda a ausência de taxas.
No entanto, é preciso simular o investimento. Muitas vezes, a rentabilidade de ativos não isentos é superior aos isentos, mesmo com o desconto de taxas.
4 – Fundos de renda fixa
Os Fundos de renda fixa são carteiras que investem, no mínimo, 80% do patrimônio em títulos de renda fixa como, Tesouro Direto.
Ele apresenta o diferencial de ter um gestor profissional que faz as alocações de ativos e acompanha diariamente a aplicação. O objetivo é conseguir o melhor rendimento.
Por ser composto por títulos de renda fixa, os retornos, geralmente, são próximos ao CDI. Os melhores fundos conseguem desempenhos bastante atrativos.
Para o fundo de emergência, o ideal é que esta aplicação tenha prazo de liquidação em até D+1. Caso você precise do valor investido com urgência, não haverá transtornos.
Um ponto de atenção é que os fundos de renda fixa não possuem a garantia do FGC.Portanto, é necessário avaliar a nota de rating do emissor. Quanto maior ela estiver, menor a possibilidade de falência.
5 – Fundos DI
Outra alternativa para fundo de emergência é o Fundo DI. Ele é um fundo de investimento referenciado na taxa DI, que é o próprio CDI.
Assim, a composição é feita com ativos da renda fixa indexados à taxa CDI. Portanto, se você quer ter uma reserva com boa rentabilidade, esta pode ser uma opção.
Como nos fundos de renda fixa, os fundos DI também não possuem cobertura do FGC, ou seja, você precisa analisar o rating da instituição emissora.
Os fundos de investimentos possuem taxa de administração. Alguns deles têm a taxa de performance. Elas devem ser consideradas antes de investir, com o intuito de saber se os rendimentos superam as despesas.
Qual o Tamanho Ideal do Fundo de Emergência?
Uma das dúvidas mais frequentes entre as pessoas que querem fazer um fundo de emergência é sobre o seu tamanho ideal.
Os especialistas recomendam que ele deve conter entre 6 a 12 meses das suas despesas mensais. Neste ponto, é importante fazer o seu planejamento financeiro.
Com ele, você terá uma visão mais ampla e detalhada dos seus custos em todos os meses. Assim, você pode fazer uma média e iniciar a formação do seu fundo de emergência.
Tenha em mente que, quanto maior o valor total, melhor será a sua preparação para uma eventualidade, ou seja, você poderá agir sobre problemas que custam mais, por exemplo, uma cirurgia ou ficar desempregado por muito tempo.
Dicas Para Criar o Seu Fundo de Emergência
O fundo de emergência deve ser a prioridade de todo investidor. Antes de partir para formar o seu patrimônio e ficar rico, você precisa se preparar para os imprevistos.
Para evitar de utilizar esse dinheiro, a melhor forma é ter uma conta só para ele. Então, procure um corretora de valores de confiança, neste artigo explicados como escolher um corretora de valores.
O cadastro é muito simples! Basta inserir os seus dados pessoais, criar um login e senha. Depois disso, transfira o valor do seu fundo de emergência da sua conta bancária para a conta da corretora através de TED de mesma titularidade.
Agora, entre na sua plataforma de investimentos e escolha as aplicações para a sua reserva. Lembre-se das sugestões deste artigo.
Outra dica para criar o seu fundo de emergência é fazer um comparativo entre os ativos.
Com essa ferramenta, você terá uma previsão de quanto cada aplicação poderá render até a data do vencimento. Assim, é possível escolher a que está mais alinhada às suas expectativas.
Por fim, uma dica muito importante: sempre que tirar recursos do fundo de emergência, priorize a sua reposição.
Já imaginou precisar resgatar um investimento e pagar multas ou perder boa parte dos rendimentos? Então, evite prejuízos desnecessários. Mantenha a sua reserva disponível.
E Depois de Montar o Fundo de Emergência, Qual o Próximo Passo?
Agora que você já tem um fundo de emergência, já pode pensar onde investir outra parte das suas economias. Para saber quais são as melhores opções, é fundamental conhecer o seu perfil de investidor.
Ele mostra as alternativas de investimento segundo a sua tolerância aos riscos, por exemplo, se você é conservador, a renda fixa é o mais recomendado.
Depois de conhecê-lo, avalie aspectos como:
- Prazo de aplicação
- Taxa de Rentabilidade
- Modalidade de investimento (renda fixa ou variável)
- Riscos envolvidos
Faça também o levantamento dos seus objetivos como investidor, por exemplo, aposentadoria, comprar um carro ou conquistar o primeiro milhão.
Eles são importantes para ajudá-lo a definir os motivos, pelos quais, você investe o seu dinheiro e o mantém motivado a ir em busca de resultados melhores.
O ideal é separá-los por prazo de realização em: curto, médio e longo. Assim, você poderá escolher com mais assertividade onde aplicar os seus recursos.
Uma das melhores estratégias de investimento é a diversificação.
Hoje, é possível montar um carteira mesmo com um montante modesto. Para você ter ideia, os títulos do Tesouro Direto custam a partir de R$ 30,00.
Ao diversificar, você pode obter rendimentos mais atrativos, independente das condições do mercado.
Em 2018, com as eleições presidenciais, a possível votação de reformas e as decisões sobre os juros, é importante estar preparado.
Um dos fundamentos sobre investir é evitar colocar todo o seu patrimônio em um ativo só. Além de estar mais propenso aos riscos, você perde boas oportunidades de ganhos no mercado.
Como essa reserva deve ser utilizada?
O montante poupado para emergências, como o próprio nome já diz, só deve ser utilizado para situações excepcionais. Assim que o objetivo de poupar 6 vezes a necessidade mensal for alcançado, esse fundo não deve ser mexido enquanto não houver emergência. Deve ser “esquecido”.
Alguns ficam tentados a utilizá-lo para trocar de carro ou fazer uma viagem, mas não podemos nunca esquecer do objetivo desse fundo. Nada impede que, após poupar o valor total, passemos a investir com outros objetivos. É importante ter em mente que esse dinheiro significa tranquilidade financeira. E quem já passou por problemas financeiros decorrentes da falta de um fundo como esse, sabe o quanto é essa tranquilidade é valiosa!
5 passos para você criar sua reserva de emergência
Bem, mãos à obra. Vou deixar alguns passos para você se organizar e criar sua reserva de emergência o quanto antes.
Passo 1: Registre suas receitas e despesas
Faça um controle bem detalhado, de pelo menos três meses, de todas as despesas da família. Faça o mesmo com suas receitas liquidas (já descontados Imposto de Renda, deduções, contribuições e etc.). Se precisar de ajuda com isso, use esta super planilha gratuita de orçamento.
Passo 2: Separe o importante do supérfluo
Agora com uma ótima visibilidade da situação financeira familiar, reúna a família e, juntos, façam uma análise profunda, identificando os itens que poderão ser cortados. Apenas tenha o cuidado de não realizar cortes demasiados ao ponto de agredir o estilo de vida da família.
Algo interessante a se fazer é listar em ordem crescente quais são os gastos prioritários. Isso ajuda muito a separar o importante do supérfluo. E caso tenha dívidas, verifique com a família se realmente é necessário mantê-las.
Passo 3: Defina um valor mensal a ser poupado
Com algumas despesas cortadas e algum dinheiro sobrando por conta da priorização mais inteligente, já é possível começar a poupar. Defina um valor fixo mensal a ser poupado ou um percentual da renda familiar para começar a guardar. Ainda que este valor seja pequeno, é importante realizar este passo para que a rotina do investimento seja estabelecida.
Passo 4: Escolha investimentos adequados ao seu perfil
Decida qual será o destino dado ao dinheiro poupado. Aqui é necessário levar em consideração o perfil do investidor (conservador, moderado ou agressivo), bem como o montante a ser aplicado e também a sua experiência como investidor.
Há ainda questões tributárias (impostos e incentivos) e custos administrativos que precisam ser compreendidos. Considerando que a maioria das pessoas tem perfil conservador e que a reserva de emergência precisa de liquidez e baixo risco, uma boa opção que combina renda, segurança e liquidez são os títulos públicos. Temos um artigo que explica tudo sobre Tesouro Direto (clique e leia).
Passo 5: Mantenha o dinheiro como uma prioridade
A cada 6 meses (ou um ano, dependendo do montante poupado), faça uma nova avaliação da situação financeira da família para verificar como está o crescimento da reserva de emergência e se já é possível considerar novos investimentos em outros objetivos e metas.
O ideal é que você acumule o equivalente a 10 meses de renda líquida mensal em sua reserva de emergência, e você pode construir a reserva em paralelo a outros investimentos desde que eles também ofereçam boa liquidez e segurança. Arriscar, só depois de ter seu fundo de reserva criado.
Analisar com frequência é importante para observar se a velocidade de crescimento da reserva atende às suas expectativas ou necessidades e permitir ajustes (aportes maiores em meses com mais receitas, por exemplo).
Você já fez sua reserva para emergência?
Compartilhe conosco sua opinião sobre o assunto, explique como sua reserva foi feita, onde está investida, ou até se você discorda de algum ponto desse artigo. Enfim, deixe seu comentário!